segunda-feira, novembro 30, 2009
Reportagem da Revista VEJA de 03/02/1999
A cultura do tapão
Eles já gostavam de brigar e agora ficaram
mais violentos depois de aprender jiu-jítsu
mais violentos depois de aprender jiu-jítsu
Daniela Pinheiro e Ronaldo França
![]() | "Depois que eu jogo no chão, é show. Boto o joelho no peito e dou um monte de socão na cara. O objetivo não é machucar, é brigar. Mas é impossível conter a vontade de deixar minha marca." |
| Foto: Renan Cepeda |
| Nome: Rodrigo Ribeiro Idade: 19 anos Altura: 1,71 metro Peso: 98 quilos Cidade: Rio de Janeiro |
Atenção! Se você encontrar alguém que possua uma orelha minimamente parecida com essa aí da fotografia à esquerda, cuidado. Ao cruzar com o portador de uma orelha dessas, recomenda-se evitar um esbarrão. Olhar para a namorada dele, nem em sonho. A turma da orelha é formada por praticantes de jiu-jítsu que, muitas vezes, não se satisfazem em treinar a arte marcial no tatame da academia. Eles saem às ruas à procura de uma vítima. Nos últimos tempos, gangues de lutadores têm-se envolvido em casos policiais com freqüência cada vez maior. Há registros de confusão provocada por eles em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Brasília e Manaus, mas a capital nacional dessa gente é o Rio de Janeiro. É lá que está a maior concentração de academias de jiu-jítsu do país, cerca de 400, metade de fundo de quintal. Na semana passada, a Guarda Municipal carioca divulgou um relatório sobre gangues que perturbam e agridem os usuários das praias de Ipanema e do Leblon e constatou que duas delas são formadas por praticantes de jiu-jítsu. Nos últimos meses, a cidade registrou a morte de duas pessoas envolvidas em brigas provocadas por lutadores dessa arte marcial. O motivo para tanta violência? Nada que faça muito sentido, aparentemente. ![]() | "Já meti porrada num professor que me expulsou de sala. Voei pra cima, desci a mão. Eu não queria matar ele e por isso só dei uns tapas." |
| Foto: Egberto Nogueira |
| Nome: Alberto Martins Filho (no centro) Idade: 19 anos Altura: 1,70 metro Peso: 60 quilos Cidade: São Paulo |
De acordo com os próprios lutadores de jiu-jítsu que gostam de uma briga de rua, a confusão pode começar a qualquer momento. Ouça-se a análise do estudante carioca Rodrigo Ribeiro, de 19 anos, cujo apelido é "Pit Bull", referência a uma das raças de cachorro mais perigosas do mundo: "Se o camarada fica me olhando, vou lá perguntar o que é. Dependendo da resposta, arrebento a cara dele". Deu para entender? Pit Bull é faixa roxa de jiu-jítsu, orgulha-se de ter surrado pelo menos quarenta pessoas e tem a orelha deformada. Isso acontece quando a cartilagem é fraturada e esfarelada pelo atrito da orelha com a lona do tatame, durante horas de treinamento, gravatas e chaves de perna. Conforme vai cicatrizando, sempre mais torta do que era antes, a orelha engorda e fica disforme. Embora muita gente veja certo ar repugnante nessas conchas auditivas, os lutadores de jiu-jítsu têm orgulho delas. Tal qual as estrelas no ombro do general, elas funcionam como um indicador de poder, de superioridade no mundo marcial em que eles vivem.
| "Já perdi conta de quantos eu 'apaguei' em brigas de rua. Meu cachorro, o 'Zé', é que nem eu, pode matar outro cachorro com uma só dentada. Olha só as cicatrizes dele." | ![]() |
| Foto: Ana Araujo |
| Nome: Alex Ferreira Nacfur (à dir.) Idade: 21 anos Altura: 1,74 metro Peso: 72 quilos Cidade: Brasília |
Em todo o país a turma do jiu-jítsu semeia pancadaria. Em Brasília, um único distrito policial registrou no ano passado dezenas de casos de brigas envolvendo lutadores dessa arte. "O pior é que a pancadaria é coletiva, porque se trata de uma turma de playboys contra a outra", diz o delegado-chefe da região, Gilberto Alves Ribeiro. Em Belo Horizonte, no Ponteio Lar Shopping, a gerência aumentou o número de seguranças para evitar que os alunos de uma academia de jiu-jítsu instalada ali dentro arranjassem confusão com os fregueses. Em Manaus, depois do assassinato de um estudante numa briga ocorrida no ano passado, a polícia fez uma blitz que fechou cinco academias dessa luta na região, por funcionar sem autorização. Não adiantou. As confusões na cidade continuam até hoje. Em São Paulo, uma boate chamada Kashmir tornou-se ponto de encontro de lutadores. Resultado: quando a concentração de "jiujiteiros", como se tratam na gíria, fica acima da média, os seguranças da casa saem da porta e se misturam com os clientes na pista. "Em algumas noites, chegamos a triplicar a segurança por causa deles", afirma Renan Pimentel, gerente da Kashmir.
![]() | "Eu sou explosivo desde garoto. Antes de entrar na briga, eu me perguntava: 'Será que eu apanho desse cara?' Quando mexiam comigo, eu brigava. Eu gosto de ser respeitado. Também tem um pouco de auto-afirmação." |
| Nome: Ryan Gracie Idade: 24 anos Altura: 1,80 metro Peso: 87 quilos Cidade: Rio de Janeiro |
Vodca com Flash Power — Pimentel conta como as brigas começam: "Eles chegam calmos e não perturbam ninguém. Aí, começam a tomar Flying Horse e Flash Power (bebidas energéticas importadas à base de cafeína e aminoácidos) misturadas com uísque ou vodca, ficam loucos e vão caçar garotas, como eles falam. É nesse momento que, em geral, as confusões começam, criadas pelo atrito com namorados de moças de que eles se aproximam. Outra coisa é que eles só andam em bando e isso os faz se sentir mais confiantes e viris". O jiu-jítsu foi criado há 2.500 anos por monges budistas na Índia e se desenvolveu no Japão. No Brasil, virou febre nos últimos anos. É uma arte marcial de alta eficiência, que consiste em derrubar o adversário no chão e torcer alguma parte de seu corpo até subjugá-lo inteiramente. "Em três meses de aula, o lutador de jiu-jítsu aprende golpes que permitem quebrar o pescoço de alguém maior e mais forte", explica Fabio Gurgel, bicampeão mundial da modalidade. "Por isso os verdadeiros seguidores do jiu-jítsu não saem brigando na rua. Eles têm responsabilidade."
Os briguentos acabam fazendo nas ruas aquilo que seus ídolos fazem no tatame em competições internacionais. No alto desse olimpo estão os lutadores da dinastia Gracie. A família, que tem academias no Rio desde o início do século, se tornou mundialmente famosa depois de criar um campeonato batizado de "vale-tudo" (veja quadro), no qual praticantes de várias artes marciais poderiam lutar para valer, para ver quem era o melhor. O torneio virou sucesso de público e, com ele, a técnica de luta ensinada pela família, o "brazilian jiu-jitsu". Entre os mais de 100 membros do clã, o favorito dos briguentos é Ryan, conhecido pelo apelido de "Demônio Gracie". Quando morava no Rio, arranjou tanta encrenca que a família decidiu mandá-lo para São Paulo. Certa vez ele armou um quebra-quebra num bar, ao bater em quatro sujeitos que mexeram com sua namorada. Repatriado ao Rio, Ryan acabou baleado por um desafeto. Escapou com apenas um tiro na perna, mas não sabe até agora quem foi o autor. Comenta-se que deve mudar-se para os Estados Unidos, onde a família mantém várias academias.
| Academia de jiu-jítsu no Rio: maioria dos praticantes não briga na rua | ![]() |
| Foto: Paulo Jares |
Obtusidade intelectual — Todo homem esconde um desejo secreto de impor respeito físico. É, provavelmente, uma reação ancestral, adquirida em tempos imemoriais, quando isso fazia grande diferença na vida de cada um. Esse impulso, no entanto, é temperado na maioria das pessoas pelo cálculo racional segundo o qual a disputa física raramente vale a pena. Com o maníaco por agressão é diferente. Esse tipo de gente surge quando alguns fatores adicionais se conjugam. Em primeiro lugar, é preciso ser mais agressivo do que a média das pessoas — e isso nada tem a ver com jiu-jítsu. Depois, ser brigão exige certa obtusidade intelectual. As técnicas de luta oferecem um meio pelo qual se podem exteriorizar impulsos agressivos. As academias e o grupo fornecem, finalmente, o ambiente no qual a pancadaria é promovida como coisa meritória. O Brasil tem mais de 4 milhões de pessoas praticando artes marciais e não se tem notícia de gangues de kung fu ou de judocas esmurrando gente na rua. São 150.000 os praticantes de jiu-jítsu e, obviamente, a maioria deles leva a arte marcial a sério. Ou seja, treina na academia e, nas ruas, demonstra desenvolvido grau de autocontrole, capaz de suportar mais desaforos do que os demais. A má imagem do jiu-jítsu é culpa de uma minoria que já gostava de dar tapas antes de entrar na academia e que resolveu aderir à luta da moda para potencializar sua ferocidade. O paulista Alberto Martins Filho não admite de forma alguma que se trate de um brigão. Diz apenas que não leva desaforo para casa. Aos 19 anos, filho de um comerciante de jóias, ele estuda direito em universidade particular e viajou para a Disney World duas vezes. Tem carro novo, namorada de cabelos encaracolados e olhos cor de mel. "Eu tenho cara de bonzinho, mas esbarrou em mim, pede desculpa. Se não eu vou forte em cima, não quero nem saber", avisa. "Fui expulso do colégio porque bati num professor que me mandou para fora da sala. Voei pra cima, meti porrada. Eu não queria matar ele e por isso só dei uns tapas", conta. O brasiliense Alex Ferreira Nacfur, 21 anos, é outro: "Já perdi a conta de quantos caras eu já 'apaguei' em brigas na rua", diz. "Eu brigo desde os 13 anos, gosto de brigar mesmo, e não vou parar", avisa. "Apagar", na gíria do jiu-jítsu, é fazer alguém desmaiar.
| "Eu me sinto mais segura com os meninos do jiu-jítsu. Tem garotas que gostam de homens bonitos, outras de rapazes com carro zero. Eu gosto dos fortes." | ![]() |
| Foto: Paulo Jares |
| Nome: Viviane Andrade Idade: 19 anos Altura: 1,65 metro Peso: 58 quilos Cidade: Rio de Janeiro |
"Paquerei um braço" — Uma característica dos garotos maus é a forma com que se relacionam com as mulheres. A grande maioria não quer namorar, apenas "fica" com garotas do time das admiradoras das artes marciais. "Marias Tatame", como são chamadas, elas perseguem os fortões com a intensidade com que as fãs de rock seguem seus ídolos. "Uma vez cheguei a paquerar um braço", conta a paulista Camila Hernandez Montandon, de 20 anos. "De longe, no bar, só via o braço de um cara. Cheguei lá, batata, ele era do jiu-jítsu. Adoro o corpo delineado deles", explica. Outro ponto que os brigões têm em comum é a complacência dos pais. No Rio o campeão mundial de jiu-jítsu na faixa azul, M.J.P., de 17 anos, surrou o advogado Renato de Araújo Ferreira, 23 anos, filho do deputado fluminense José Godinho, o "Sivuca". O inquérito policial indica que, embora M.J.P. tenha enfrentado Renato e mais três, foi ele próprio que começou a briga. Seu pai, funcionário público federal e ex-campeão sul-americano de judô, não acredita: "Ele só se defendeu. Nós não somos de briga de rua. Nosso negócio é no tatame".
![]() | "O jiu-jítsu é que deixa os homens com o corpo mais bonito, delineado. Não troco eles por nenhum magrinho que manda flores. Até já esqueci a última vez que namorei um 'franguinho'. " |
| Foto: Egberto Nogueira |
| Nome: Camila Hernandez Montandon Idade: 20 anos Altura: 1,66 metro Peso: 54 quilos Cidade: São Paulo |
O psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, que também é adepto de arte marcial (ele é faixa preta em caratê), tem visão mais bem-acabada do problema: "Essa geração foi criada por pais que deram aos filhos toda a liberdade do mundo. O resultado foram jovens imaturos, que não aceitam frustrações. Para piorar, eles encontram academias inescrupulosas, que distorcem o sentido das artes marciais", diz. "No Oriente, pregam-se a nobreza de espírito e a disciplina. Aqui, confunde-se força com prepotência e virilidade com agressividade."
Como reconhecer um deles na rua
Fotos: Monique Cabral |
Os gostos da turma do tatame As caminhonetes são um sonho de consumo. Carro bom tem de ser grande e forte. Feito os lutadores. |
Eles são meus heróisOs ídolos dos lutadores de jiu-jítsu têm um traço em comum: eles levam a vida no braço. Um dos heróis é o boxeador Mike Tyson, que não tem nada a ver com arte marcial, mas tem tudo a ver com confusão, briga e indisciplina. O ator Chuck Norris, que atua em filmes de pancadaria, é outro que faz sucesso. Há um brasileiro na lista. É o carioca Victor Belfort, lutador de vale-tudo. |
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pow nem tdo lutador e axim d gangue... affs
ResponderExcluirmoh ko essa parada de q quando começou a fazer jiu-jitsu fik mais brabo...
ResponderExcluirpow quando eu comecei foia epoca mais trankila, depoisq eu parei eh q eu me tornei mais explosivo,mas quando voltei para o jiu-jitsu, voltou tdo ao normal... jiu-jitsu num eh soh uma luta, eh filosofia de vida...
e essas girias são soh dos lutadores? hasusahusahusah
VEJA... faça coisa melhor q isso e procure akeles q façam o bem tb...
é um bando de FDP quem fez essa entrevista
ResponderExcluirpratico jiu jitsu á 2 anos, e eu só fiquei mais calmo ..
por esses motivos ( motivos falsos) que naum fomos ás olimpiadas até hojê ..
revejam suas ideias
Ridícula a reportagem, so mostrou uns poucos retardados que usam o jiu-jitsu de forma errada, má pessoa tem em tudo que é área, maior parte dos lutadores de jiu-jitsu são pessoas de bem, como toda arte marcial, o jiu-jitsu deixa seus praticantes mais calmos e pacíficos, eu era um cara que quando adolescente, brigava quase todo dia, depois que comecei a fazer jiu-jitsu, nunca mais briguei, tem 15 anos que não brigo com ninguém fora do tatame...
ResponderExcluiré apenas uma reportagem para vender revista, não procurou saber de toda história, falar das partes boas dessa arte marcial, não vende revista, sendo que essa parte ruim ai é algo bem esporadico, poucos são assim
O Jiu Jitsu é uma arte marcial utilizada para auto defesa. Cabe ao seu praticante usá-la para o bem, como para o mal. Como a revista Veja que utilizou-se desta reportagem de forma tendenciosa, destacando uns retardados que praticam o esporte.
ResponderExcluirSe fosse falar mal da Veja, falaria do Lauro Jardim(patético) e Diogo Mainardi(mentiroso de primeira).
KKKKKKKKKKKKKKK mostrei na academia essa 'reportagem' pensa num povo que riu KKKKKKKKKK comedia, agora assunto serio já vi cara entra na academia só pra aprender a bater nas pessoas na rua geralmente se o sensei for realmente um bom sensei nao da um mes esse povo volta de ré pra casa!
ResponderExcluirO verdadeiro lutador de jiu jitsu luta no tamame e não nas ruas, isso aí em cima não é lutador é marginal.
ResponderExcluirGuilherme "Gigante" - Check Mate
Se procurarem esses "bandidos" nos campeonatos não vão encontrar nenhum, são todos covardes que aprendem meia duzia de golpes de jiu-jitsu e vão pra rua bater em quem não sabe se defender.
ResponderExcluirO VERDADEIRO PRATICANTE DE JIU-JITSU NÃO BRIGA NA SUA E SIM , SE PREPARA NA ACADEMIA PRA LUTAR NAS COMPETIÇÕES.
OSSSS
Ridículo essa matéria, se é que pode-se chamar isso de matéria...
ResponderExcluirEu era briguento antes de fazer jiu jitsu... comecei a treinar para ter vantagens em minhas brigas nas ruas .... mas meu mestre e as palestras que tive na Alliance, me mostraram que não preciso provar para ninguem que sou melhor e que lutar é só no tatame.